Não sei dizer

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

É engraçado e tenso o jeito das pessoas e o quanto elas mudam com as circunstâncias do tempo e de sucessões de acontecimentos que a vida te faz viver, enfim.

É inexplicável, mas vendo aquele filme - esqueci o nome - alguma coisa "(...) Benjamin Button" me senti na obrigação de não sofrer mais por coisas que já aconteceram ou que não tem mais jeito de ser de outra forma. Quantas pessoas passaram pela sua vida? E quantas delas realmente ficaram?

Não sei dizer, mas tem gente que você acha que se instalou de uma forma que parece que faz parte do seu corpo, como se fosse outro braço e num piscar de olhos, por malditas circunstâncias tudo se vai e você fica, você também muda, mas fica.

A gente não consegue saber totalmente o que o outro está pensando, seja quem ele(a) seja. Nós não conhecemos ninguém e ainda corremos o risco de não nos conhecermos totalmente. Hoje pela manhã, acordei sem paciência. Fui ao banho como se fosse a coisa mais difícil de se fazer, aliás, levantar da cama foi um sacrifício: um sacrifício psicológico. Todos os dias têm sido colocados à prova, pelo menos para mim.

O motorista do ônibus que eu pego diariamente também estava sem a menor paciência. Brigou com pessoas no trânsito, correu vagarosamente: eu quase cai, mas isso já é normal. Fiquei pensando no que estava acontecendo com ele. Se brigou com a mulher, perdeu um filho, não tem dinheiro para pagar as contas. Que seja! Alguma coisa estava o afligindo. Ao mesmo tempo em que ele corria, os tradicionais colegas de viagem incorporavam a viação e aglomeravam-se entre mim. Um senhor, que não sei se é pai ou avô, leva todos os dias um menino que tem um retardo mental para escola. Eu já ouvi uma infeliz perguntar a outra: - Por que que ele perde o tempo levando esse garoto pra escola? Ele é um retardado!

Espero que ela nunca tenha um filho nestas condições.

Uma evangélica fervorosa com fé em sei lá o que, acreditando que suas orações chegaria a alguém para quem ela estava orando.

Na descida, pelo caminho até ao meu trabalho, um senhor para a bicicleta dele na minha frente. Pede para eu olhar nos olhos dele e pergunta: - Por que você tem um diploma?

Eu não respondi porque meu raciocínio ainda estava processando esse encontro meio fora do comum e quando eu ia abrir a boca para responder, ele retrucou com a frase: - Para se aposentar. 


Eu ri. Outras pessoas me chamaram de maluca, pois estava dando corda a um bêbado lunático e saíram praguejando o senhor. Isso ficou na minha cabeça.

De repente se eu tivesse me atrasado mais um pouco na cama ou se tivesse não enrolado com a minha estafa psicológica talvez esse homem na bicicleta azul não tivesse cruzado o meu caminho hoje. Se eu não tivesse conhecido alguém por conta de um trabalho que fiz no final de semana, continuaria querendo conhecer. Se eu de repente, resolvesse desistir do jornalismo? Será que teria valido à pena ter conhecido todos da minha turma? Será que eu teria os conhecido se não tivesse uma queda com as palavras? Como seria a minha vida sem amigos queridos que hoje são alguns braços que eu tenho? Teria feito outros e não sentiria falta deles? Ou se o destino mesmo existe eu os teria conhecido em outras circunstâncias?

Não sei dizer. 

4 comentários:

Everton Maciel disse...

Esse blog é melhor que os outros. Fecha todos e mantém só esse.

Ramon Sousa disse...

Caraca Tamyris...Mto bom texto...td o q vc falou me fez refletir bastante...pode ter certeza !

Alex Y. disse...

Até que enfim voltou a escrever...

Unknown disse...

Muito bom!

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